sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Praia de Iracema














Praia de Iracema

por Afonso Pontes

Mas uma noite surge em Fortaleza,

mas um passo no tempo é dado,

porque simplesmente é noite em Fortaleza,

suas noites de maioria quentes, ferventes.

É noite em Fortaleza.

O que os olhos vêem o que detectam, é a euforia no ritmo de Fortaleza,

com seus passos minguados, noturnos.

Visão antiga dos olhos de Fortaleza,

praia de Iracema, repleta, completa por seus bares,

lugares imaginados e sugados durante a noite,

Iracema teu nome deu origem ao lugar,

Iracema de todos os amores,

Iracema pela qual um dia fui a gargalhar.

Vejo em teus olhos Iracema, neste minuto um luto, uma angustia um pensamento,

vejo em teus olhos Iracema sofrimento,

a ausência do carinho, a ausência da ternura, da boemia curtida noite a fora,

Iracema se pudesse ver agora, choraria, se isolaria,

sozinha no brilho da tua lua como antes fazia ao olhar o mar,

que hoje enleva olhos estrangeiros.

Iracema meu anjo em suas mulheres perfumadas, ilustradas,

preparadas para mais uma noite de passeio e angustia,

muitas em seus pelos naturais,

Iracema fonte de afeto comprado do prazer desejado,

fica entre os beijos e abraços entre um cigarro,

um gole e outro derramado, fulminante com o tempo e o relógio em busca de uma boa oportunidade.

Iracema dos tempos que vivi, já não mais existe,

Iracema encantada hoje coexiste,

parte de Fortaleza muitas vezes abandonada,

ou quem sabe esquecida, seduzida pelos seus corpos femininos ambulantes prazerosos,

em busca de um amor inconstante.

Iracema que faz escola da recente geração de meninas,

acham-se maravilhosas, seus corpos uma excitação,

Iracema sinto-me a muitos anos atrás no teu tempo mais nostálgico,

do inicio do teu ventre quando senhores de outras terras se aqueciam no teu beijo,

com tuas mulheres regadas ao vinho, regadas ao álcool.

Ah, Iracema quando tu vais voltar? Será que um dia tu acordaras?

Se acordares, se acordará tarde, como as tuas usuárias que dormem durante o dia,

saciam suas necessidades no leito da tua noite mal dormida,

tu permaneces acordada, permanece fluida de bar a bar,

no sorriso e no olhar de cada um, que realmente é único e solitário.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Pondo-se no lugar

"É verdade que para escrever sobre algo é preciso conhecimento, na poesia o poeta precisa reviver suas experiências, e apenas escreve sobre aquilo que realmente conhece, é preciso sentir a dor para saber chorar, é preciso ver a dor do semelhante e se por no lugar, eu tenho estas feridas em mim, profundas onde às vezes não se enxerga a luz de um dia nublado.
Vejo a injustiça massacrar minha alma e a vejo fazer o mesmo com outros, quem sente a dor? Ninguém, pois ela é compartilhada todos os dias, anestesiando em dias calmos nossa ira, é preciso sentir a dor do enclausurado pelo destino, ele caminha livre, mas seus pensamentos não, eles são como os meus e os seus, por alguma coisa não seguem em paz, camuflam-se em sorrisos e esquecem que há a Justiça lenta, acolhendo o mal e roubando das pessoas de bem, não esqueço, que o mundo em seus futuros caminhos necessitará talvez de você, em sua mais fina vontade de ser o bem."
Este foi o pensamento que veio na minha mente, quando vi um pai que teve seus dois filhos assasinados, chorar em uma entrevista, por incerteza que o assasino fosse condenado pela justiça.